Incêndios recordes impactam produção de cana-de-açúcar e setor sucroenergético
O estado de São Paulo registrou em agosto de 2024 um número recorde de queimadas, de acordo com dados da plataforma de monitoramento Terrabrasilis, coordenada pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Com um total de 3.612 focos ativos ao longo do mês, o período ficou marcado como o mais devastador da história recente em termos de incêndios no estado.
Entre os dias 22 e 24 de agosto, foram captados 2.621 focos de incêndios, sendo quase 1.900 ocorrências apenas na sexta-feira, 23. Esses incêndios afetaram principalmente a sociedade civil e o setor agropecuário, com destaque para os canaviais da região de Ribeirão Preto, um dos polos mais importantes da produção de cana-de-açúcar no país.
Impacto nas principais regiões produtoras
Os dados do Centro Gestor e Operacional do Sistema de Proteção da Amazônia (CENSIPAM) indicam que, no período mencionado, houve mais de 2.000 eventos de queimadas no estado, muitos dos quais se concentraram nas áreas canavieiras. A área total atingida pelas chamas somou cerca de 290 mil hectares, sendo 270 mil em áreas não protegidas, como terras indígenas ou unidades de conservação.
As mesorregiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto foram as mais afetadas, com focos intensos de incêndio. A análise cruzada dos dados do Terrabrasilis e do Painel do Fogo mostra que aproximadamente 220 mil hectares de plantações de cana-de-açúcar foram impactados diretamente pelas queimadas, representando cerca de 75% do total de áreas atingidas no estado.
Usinas sob pressão
Cerca de 29 usinas em São Paulo, localizadas principalmente nas mesorregiões de Ribeirão Preto e São José do Rio Preto, tiveram suas operações impactadas pelas queimadas, que atingiram um raio de até 10 km de seus limites. Se expandido o raio de análise para 20 km, o número de usinas afetadas sobe para 114.
A Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (ORPLANA) estima que cerca de 80 mil hectares de canaviais foram danificados pelas queimadas, sendo que 40% dessa área corresponde a cana em estágio de brotação, o que pode gerar prejuízos maiores a longo prazo. A estimativa é de que essas áreas queimadas podem resultar em uma perda de até 2,9 milhões de toneladas de cana na safra 2025/26.
Perspectivas para o setor
Embora a cana-de-açúcar queimada possa ser colhida rapidamente, a necessidade de mobilização de recursos humanos e máquinas aumenta os custos das usinas, além de comprometer a qualidade do açúcar recuperado. Estima-se que o setor possa perder até 470 mil toneladas de açúcar devido à redução na qualidade da matéria-prima queimada.
A safra 2024/25 ainda traz incertezas quanto aos impactos diretos das queimadas, que podem comprometer o mix açucareiro esperado. A StoneX, empresa de inteligência de mercado, projeta uma moagem de 602,2 milhões de toneladas de cana no período, com um mix açucareiro de 50,5%. Contudo, a qualidade da cana vem sendo afetada, o que pode comprometer essa projeção.
Preocupações para o futuro
Apesar das perdas ainda serem incertas para a safra atual, o impacto das queimadas preocupa mais para o ciclo 2025/26, principalmente devido ao possível replantio de áreas afetadas. Em setembro, o estado de São Paulo já registra novos focos de incêndio, com previsão de temperaturas elevadas até a metade do mês, o que pode agravar ainda mais o cenário para o setor canavieiro.
As chuvas, aguardadas para o mês de outubro, são essenciais para minimizar os prejuízos e garantir a colheita das áreas ainda preservadas. No entanto, as próximas semanas prometem ser desafiadoras para os produtores de cana-de-açúcar, que enfrentam as consequências das queimadas e o clima desfavorável.
Fonte: Portal do Agronegócio