Mudanças climáticas podem reduzir produção global de trigo em 13% até 2050

Expansão da brusone ameaça 13,5 milhões de hectares, comprometendo a produção mundial

Foto: A brusone tem potencial de afetar 13,5 milhões de hectares e risco de reduzir em 13% a produção mundial de trigo

As mudanças climáticas estão favorecendo a disseminação da brusone, doença causada pelo fungo Pyricularia oryzae que representa uma grande ameaça à produção global de trigo. Estima-se que, até 2050, a doença poderá se expandir e comprometer até 13,5 milhões de hectares, resultando em uma redução de 13% na produção mundial do grão. As projeções fazem parte do estudo “Vulnerabilidade da produção de trigo à brusone sob mudanças do clima”, publicado na revista Nature Climate Change.

A brusone é considerada a doença mais recente e de maior impacto econômico no trigo. Causada pelo fungo Pyricularia oryzae patótipo Triticum, a doença atinge folhas e espigas da planta, podendo comprometer até 100% da colheita. De acordo com o pesquisador José Maurício Fernandes, da Embrapa Trigo, o fungo se desenvolve em condições de alta temperatura e umidade, comuns em regiões tropicais e subtropicais, mas recentemente tem sido observado até mesmo em climas frios e secos.

No Brasil, surtos de brusone foram registrados durante o inverno de 2023 no Rio Grande do Sul, especialmente em áreas onde as temperaturas mínimas superaram os 15ºC. Fernandes destaca que, com o aumento das temperaturas globais e a variação no regime de chuvas, o fungo encontrará novos ambientes para se propagar, seja pelo vento ou pelo comércio internacional de grãos e sementes contaminadas.

Histórico da doença e sua disseminação global

Embora a brusone seja um velho conhecido dos produtores de arroz – com registros datando de 1600 na China – seu impacto no trigo foi identificado pela primeira vez no Brasil, em 1985, em lavouras do Paraná. Desde então, a doença se espalhou rapidamente para outros estados brasileiros e países da América do Sul. Na década de 1990, uma epidemia de brusone afetou 3 milhões de hectares na região, com perdas significativas registradas na Bolívia, Paraguai e Brasil.

A Argentina, 10º maior produtor de trigo do mundo, enfrentou o primeiro surto em 2007, com a doença avançando para a principal região produtora do país em 2012. Em 2023, o Uruguai também registrou seus primeiros casos. Fora da América do Sul, a brusone foi detectada em Bangladesh em 2016, causando perdas de até 30% nas lavouras de trigo. O fungo também foi identificado em 2018 na Zâmbia, África.

Projeções para o futuro

Pesquisadores utilizaram modelos de simulação baseados nas previsões do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) para avaliar os possíveis impactos da brusone no trigo em diferentes continentes. Utilizando o modelo DSSAT Nwheat, desenvolvido pela Universidade da Flórida, o estudo analisou variáveis como o aumento de temperaturas, umidade relativa do ar e a elevação dos níveis de CO2. A pesquisa apontou que, até 2050, a brusone pode se expandir significativamente, afetando lavouras em regiões atualmente não impactadas, como Estados Unidos, México, países da Europa e parte da Ásia e Oceania.

Além da América do Sul, a doença pode alcançar novos territórios, como Espanha, França, Itália, Japão, sul da China, Etiópia, Quênia e Nova Zelândia. Para o professor Willingthon Pavan, da Universidade da Flórida, o Hemisfério Norte ainda apresenta condições pouco favoráveis à brusone, mas o aumento das temperaturas e da umidade pode mudar esse cenário, especialmente em regiões próximas ao Mediterrâneo e no sul da China.

Desafios no combate à brusone

Atualmente, a brusone ameaça cerca de 6,4 milhões de hectares de trigo ao redor do mundo. Com as mudanças climáticas, esse número pode dobrar até 2050, resultando em perdas anuais de até 69 milhões de toneladas de trigo. Embora iniciativas globais busquem conter a doença por meio de melhoramento genético, biotecnologia e controle químico, ainda não foi alcançado sucesso completo para erradicá-la.

Fernandes enfatiza que a resiliência às mudanças climáticas exige preparo e ações baseadas em projeções realistas. “Precisamos de decisões estratégicas para minimizar os danos da brusone e garantir a segurança alimentar global”, conclui o pesquisador.

Fonte: Portal do Agronegócio

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